No âmbito da comemoração dos 10 anos do programa Media Smart, convidámos o secretário de Estado da Educação, Dr. João Costa, a refletir sobre a importância da Literacia para os Media no século XXI. Este programa sobre literacia para os media assente na publicidade, é uma iniciativa APAN, que visa ajudar as crianças e jovens, com idades compreendidas entre os 7 e os 14 anos de idade a aceder, analisar, avaliar, criar e agir com todas as formas de media, de forma crítica.
Fala-se muito da educação para o século XXI, esse século que não está para chegar porque já chegou e já tem o primeiro quartil quase passado. Discute-se porque assistimos a alterações profundas, não apenas fruto da revolução tecnológica, mas sobretudo por via das consequências desta revolução para a forma como nos relacionamos com a informação, com o conhecimento e, consequentemente, uns com os outros. Discute-se porque, neste século, com tanto conhecimento gerado, vive-se o paradoxo de o conhecimento não estar a trazer mais certezas, mas sim um aumento de indefinições sobre o futuro, abundando questões como qual será a configuração dos países, como será a realidade laboral ou até como ocuparemos o nosso tempo livre.
Abunda a informação, chega-nos por todo o lado, as redes sociais são mais lidas do que os meios de comunicação clássicos, subitamente passamos de ser consumidores de informação a produtores de informação. A fiabilidade das fontes tornou-se fluida, a confiança na informação afetada. Quando uma população diz que não confia nos media, a democracia está afetada. Mas a confiança na democracia é um princípio de que não podemos abdicar.
É neste contexto que faz todo o sentido discutir finalidades da educação, como aliás se fez em Portugal no contexto da construção do Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória, agora homologado e objeto de referência para a organização e desenvolvimento do currículo. Definir um perfil do aluno é, essencialmente, responder à pergunta: o que é um aluno bem-sucedido?
Hoje, um aluno bem-sucedido é não apenas detentor de conhecimento, mas é também – e sobretudo – um cidadão que sabe pesquisar informação, analisando e validando fontes, citando-as corretamente, que é capaz de identificar tipologias diferenciadas de texto (distinguindo notícias de opiniões através de informação textual e paratextual), que consegue analisar a informação que obtém, que tem recursos para criticar, que sabe discutir. É um aluno que lê texto, mas que também lê imagem, que associa texto e contexto. É um aluno que precisa de uma escola que não tenha medo de propor novos desafios de leitura, que entenda que ler hoje é mais do que reproduzir o treino que era feito há várias décadas.
Por isso, hoje as escolas estão a desenvolver a possibilidade de promover um ensino que integra a educação para os media não só nas disciplinas tradicionais, através do desenvolvimento de projetos e de formas mais diversificadas de avaliação, mas também através da área disciplinar de Cidadania e Desenvolvimento, onde se inscreveu a educação para os media como área de formação obrigatória, reconhecendo-se a centralidade desta área na formação dos indivíduos.
Nesta sociedade de abundância informativa, é necessário garantir que informação não é sinónimo de confusão, mas sim de um conhecimento estruturado que gera participação esclarecida e livre. Para isso, é preciso alicerçar literacias múltiplas, potenciadoras de um conhecimento mais robusto, mais analítico e crítico. Só esse conhecimento robusto permite que se façam escolhas em liberdade e se alcance o direito ao exercício da cidadania que é um garante essencial da felicidade.
Este é um desafio para a escola, mas também para a sociedade no seu todo e para a responsabilidade social de quem produz informação.
Ler mais e melhor, julgar mais e melhor para melhor escolher e participar. Aqui está o papel da educação para os media.
João Costa, secretário de Estado da Educação