Tendo em conta a entrada em vigor do novo Regime Geral de Proteção de Dados (RGPD), a 25 de maio de 2018, perguntámos ao especialista João Ferreira Pinto, formador da Academia APAN, como as empresas em Portugal têm estado a responder à nova lei.
- As empresas em Portugal têm estado a responder corretamente às exigências ao novo RGPD?
Em Portugal as empresas e, sobretudo, o Estado “acordaram” tarde para o RGPD, não obstante o período de dois anos para se adaptarem.
Estão agora a tentar ganhar o tempo “perdido” e a dar prioridade aos temas mais sensíveis e cujo incumprimento é mais visível e pode causar danos reputacionais.
Há um longo caminho a percorrer, embora se trate de um processo e de um caminho que é necessário percorrer: mudar mentalidades e cultura organizacional; formar os Recursos Humanos no RGPD; rever procedimentos e processos de negócio; investir em soluções adequadas para dar resposta tecnológica aos desafios do RGPD.
- Quais os principais problemas que identifica nesta fase inicial?
Uma certa dificuldade da gestão de topo em compreender bem os impactos do RGPD e sua responsabilidade pelo (in)cumprimento desta nova “Lei” europeia de proteção de dados pessoais.
Trata-se de uma nova filosofia de tratar e proteger os dados pessoais dos trabalhadores, dos clientes, do cidadão e de fazer marketing (embora os princípios de fundo sejam os mesmos há mais de 20 anos). É preciso reformatar a gestão até à parte operacional das organizações, numa lógica, “top down”.
- Não considera improducente para os consumidores este excesso de informação sobre proteção de dados?
Este excesso de informação sobre proteção de dados, uma “fadiga de RGPD”, é o resultado de deixar tudo para a última hora.
O RGPD é uma excelente oportunidade para fazer um balanço interno, para fazer bem, mais e melhor, mas é sobretudo, uma excelente oportunidade para comunicar o “bem fazer”.
- Considera que ainda há espaço, particularmente no que diz respeito à atividade de marketing e comunicação, para formação específica aos profissionais desta área?
O Marketing e a Comunicação das empresas e das Administrações Públicas têm muito espaço para trabalhar/comunicar e bem com o RGPD.
Nesta área também o “mau marketing expulsa o bom marketing”.
É um desafio comunicar que se “faz bem”, mas para tal é necessário criar antes uma cultura de “awareness” sobre privacidade e proteção de dados para os profissionais e marketing e comunicação. Há uma escassez de oferta de formação na área do Marketing Digital, mesmo ao nível das Pós-graduações nas Universidades, em que poucas se destacam nesta área de Direito Digital 2.0.
- Que recomendações deixa às empresas/marcas?
O RGPD não é o fim, que termina com o preenchimento de uma checklist de requisitos legais e com a transformação digital. É uma nova filosofia de veio para ficar para as próximas décadas. As organizações (desde o Estado, as PME´s, até às redes sociais e aos motores busca) que perceberem que o mercado (e os seus próprios recursos humanos) valoriza(m) o respeito pela privacidade e a proteção dos seus dados pessoais, estão um passo à frente de concorrência.
Para elucidar e colmatar dúvidas relativas ao GRPD, a APAN lançou um Guia para profissionais de marketing. O guia, desenvolvido pela WFA com o apoio da Hunton & Williams LLP, destaca cinco áreas-chave do RGPD que os marketers devem conhecer e preparar. Descarregue o guia AQUI (exclusivamente para associados da APAN). Se considera importante a realização de novas formações sobre este tema na Academia APAN, preencha o questionário aqui.