O que já aprendemos com o COVID-19?

O que já aprendemos com o COVID-19?
11/05/2020 APAN

O que já aprendemos com o COVID-19?A Contagious promoveu um Livestream para perceber os conhecimentos que o confinamento trouxe à indústria do marketing. A sessão foi uma oportunidade para se ter um panorama geral e permitiu chegar a seis conclusões principais.

1/ Cuidado com quem afirma prever o futuro

O futuro é, por definição, incerto e as pessoas odeiam a incerteza. Por isso, quando surge alguém a dar certezas e prever o que está ao virar da esquina, a tendência é, instintivamente, acreditar no que nos estão a dizer. Mas o futuro é fundamentalmente incognoscível e, mesmo que se adivinhe exatamente o que vai acontecer, há uma margem infinita para errar. Até Philip Tetlock, um dos maiores especialistas mundiais em previsões, conclui que, depois de ter estudado o assunto durante décadas, “as previsões dos especialistas a cinco anos, são muito pouco precisas”.

2/ ”Go with the flow”

Para onde podemos então virar-nos quando nos queremos preparar para ter sucesso nos próximos anos? A resposta é para a tecnologia ou, especificamente, para as forças exponenciais que impulsionam o sector. O pensamento do inventor americano Ray Kurzweils sobre a Lei de Aceleração do Retorno aplica-se não só a melhorias no hardware, mas também no software e não só. As forças exponenciais que devemos considerar têm custos: como a capacidade da tecnologia aumentou, o preço do poder de processamento caiu, não valendo agora praticamente nada. Num mundo repleto de incertezas, o progresso tecnológico é uma das escassas certezas. Uma das lições deste livestream é que se deve investir na compreensão e aplicação da tecnologia mais pertinente para o âmbito do seu negócio e usá-la como guia da sua estratégia.

3/ Aprender a detetar a diferença entre o que é antigo e o que é novo

Parece simples, mas é fácil ser condescendente. A Amazon e a Tesla foram subestimadas por concorrentes antigos que não conseguiram entender em que medida é que aqueles negócios eram diferentes e diruptivos. Agora, são vários os sectores que se tentam redefinir de acordo com regras já ser reescritas por Jeff Bezos (fundador da Amazon) e Elon Musk (fundador da Tesla).

Já a Adland inclina-se para o extremo oposto, perseguindo a novidade, seja ela qual for, sem reconhecer valor naquilo que já existe.

A lição que se tira destes exemplos é que existem oportunidades nos mais experientes, porque a maioria das pessoas não conhece os seus precedentes – pode poupar-se muito tempo e energia, aprendendo diretamente com os pioneiros, sem ter de se reinventar a roda. Por outro lado, há oportunidades no que é verdadeiramente novo, uma vez que não tem precedentes – é possível escrever as próprias regras e ficar um passo à frente da concorrência.

4/ Tornar-se culturalmente fluente

Isto é para quem ainda fala em “inserir a sua marca na cultura”, o que soa a um procedimento que requer tratamento com pinças. É suposto sermos uma indústria de especialistas em comunicação. O vocabulário importa e o que esta frase sugere é uma forma indesejável, invasiva e ligeiramente desesperada de tentar encontrar relevância junto do seu público-alvo – como foi o caso da Ivanka Trump na cimeira do G20.

A cura está em algo que Steve Stoute, fundador da Translation Enterprises, disse em Cannes, no ano passado: “não se pode visitar a cultura, tem de se estar nela”. Não se pode ser um turista que está a aproveitar um fim-de-semana cultural: é preciso comprometer-se. É necessário um processo de triagem para as novas plataformas e tecnologias, e pessoas com tempo e entusiasmo para se tornarem fluentes naquelas que são mais relevantes para a sua marca. Se isto for bem feito, o resto seguir-se-á.

5/ Combater as forças da anti criatividade

John Hegarty (co-fundador da agência de publicidade BBH) descreveu o propósito das agências da seguinte forma: “O nosso objetivo é a eficácia, a nossa estratégia é a criatividade”, mas este é um conceito que os clientes e a comunidade empresarial em geral também precisa de abraçar com mais entusiasmo. Uma investigação, levada a cabo pelo Dr. Kyung Hee Kim revelou que nos últimos 25 anos, a criatividade tem estado em “declínio constante e persistente” nos EUA – mas é provável que seja também um problema noutros locais.

A professora Teresa Amabile passou mais de 40 anos a estudar a criatividade e a motivação. Numa das suas publicações para a Harvard Business Review atribui grande parte da culpa à gestão, que, embora não o faça intencionalmente, “na procura da produtividade, a eficiência acaba por minorar a criatividade”.

Há toda uma série de forças anti criativas. Algumas delas são fáceis de detetar, como as coisas que a Amabile menciona, mas outras são totalmente invisíveis. The Bias Against Creativity, uma reconhecida investigação realizada na Universidade de Cornell, revela que a maioria das pessoas tem um preconceito totalmente inato contra a criatividade, que muitos desconhecem.

E aqui estamos nós, em 2020, com a economia global indefinidamente parada. Para sobreviver a isto, as empresas terão de ser mais ágeis do que nunca. Precisarão de ser capazes de evoluir. E é aí que as coisas se tornam interessantes. Porque, segundo o neurocientista Beau Lotto: “A agilidade é importante na medida em que sustenta a criatividade”. Por outras palavras, a agilidade em si não é a chave para a sobrevivência. É um método para alcançar a criatividade, e é a criatividade que o ajudará a evoluir. É por isso que o combate às forças anti criativas – visíveis e não visíveis – deve ser uma prioridade.

6/ Saiba mais do que a próxima pessoa

O que mais impressiona é a falta generalizada de conhecimento em áreas críticas para o sucesso futuro de agências e marcas: coisas básicas, como a história e a teoria do marketing e da publicidade, e os precedentes necessários para se chegar à excelência na criatividade e na estratégia. Não está correto.

Esta é uma indústria de trabalhadores do conhecimento na economia do conhecimento. Quanto mais se sabe, mais valioso se é. Uma verdade que vai ganhar ainda mais força na próxima década.

Artigo original disponível AQUI

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