A pandemia acentuou a necessidade de cada departamento de uma organização prestar mais atenção à cibersegurança. Isso faz sentido, certo? Quanto mais tecnologia utilizarmos nos nossos processos e no trabalho quotidiano, mais vulneráveis poderemos estar a um ataque. E se eu vos dissesse que a adoção de melhor cibersegurança começa com equipas de marketing bem preparadas?
Este é o ponto de partida da reflexão de Becca Chambers, estratega de segurança cibernética, membro do Conselho de Comunicações da Forbes e, na altura, Vice-Presidente de Comunicações Empresariais Globais da Ivanti.
Acompanhem-me no raciocínio. Quando as pessoas pensam em marketing, normalmente imaginam campanhas de e-mail, redes sociais e brand awareness. A cibersegurança é muitas vezes o último tópico que parece relevante. Mas, à medida que o marketing é cada vez mais ativado pelos dados dos clientes – e, mais especificamente, pelos dados pessoais – os consumidores parecem estar a tornar-se mais conscientes e mais preocupados, já que o trabalho remoto e a permanente conectividade dispersam os nossos dados. Ao longo dos últimos meses, os principais meios de comunicação social deram conta de inúmeras violações da cibersegurança. Para além de ter desencadeado a partilha de alguns memes em redes sociais, acima de tudo, contribuiu para uma discussão mais ampla sobre cibersegurança, fora das empresas.
As preocupações dos consumidores com os dados não são novas e há muito que envolvem o marketing. De acordo com dados da PwC, 85% dos consumidores gostariam que houvesse mais empresas em quem pudessem confiar os seus dados. Este é um número chocante e creio que está diretamente ligado a um aumento da conectividade e da disponibilidade dos dados.
Os profissionais de marketing estão numa posição única para fornecer aos atuais e potenciais clientes uma experiência personalizada e envolvente – e mais controlo. Essa experiência deve incluir uma compreensão dos riscos cibernéticos e de como esses riscos estão ligados à sua privacidade. Basta uma experiência negativa do cliente devido a um contratempo de segurança cibernética para prejudicar a confiança e identidade da sua marca, impactando a perceção em geral.
Entre os cargos de direção, a cibersegurança tem sido tipicamente uma preocupação dos líderes de IT, CIOs e CTOs. Hoje, o tempo é essencial. Com as iniciativas de transformação digital no topo das atenções e o 5G a ganhar tração, os diretores e equipas de marketing devem assumir um papel mais ativo e estar preparados para estabelecer um equilíbrio entre segurança, privacidade e experiência do cliente. É por aqui que devem começar.
Fomentar a transparência e a confiança
A má notícia: o mundo está cheio de ameaças cibernéticas e o número de cibercrimes denunciados registou um grande incremento durante a pandemia. Os protagonistas das ameaças estão a tornar-se mais ousados e sofisticados e há mais dados vulneráveis do que nunca. Seja um profissional de marketing centrado em B2B ou em B2C, continua a ser um alvo potencial e o mesmo acontece com as suas audiências. Construir confiança junto do seu público alvo sempre foi um elemento essencial das suas campanhas e, sem dúvida, ela nunca foi tão importante. Além disso, a confiança parece agora diferente. Os marketers devem ser transparentes quanto à forma como a empresa irá utilizar os dados e quais os processos que a empresa tem em vigor para proteger o seu público em todas as comunicações.
Se sente que ultimamente tem ouvido cada vez mais falar sobre transparência e dados, tem razão. Testemunhámos a iniciativa RGPD da União Europeia e, a breve trecho, mais medidas de grande visibilidade em torno da segurança vão ser lançadas. Isso não significa que tenha de esperar por regulamentos. Aprofunde a relação e construa confiança agora, envolvendo-se proativamente com os seus clientes e mostrando-lhes que a sua marca tem pulso firme e que a proteção de dados é uma prioridade máxima.
Fazer da educação a componente principal
Há aqui dois objetivos: criar confiança e educar o seu público para o sucesso a longo prazo. O primeiro trabalho de um marketer deve ser sempre educar. Educar os clientes a conseguir maior privacidade e segurança, independentemente da indústria, pode não só ajudar a fomentar ou reforçar a confiança, mas também a fidelizar clientes a longo prazo.
Esta é uma oportunidade para se posicionar como um líder forte. Não tenha medo de armar o seu público com conhecimentos que eles possam aplicar para além da sua marca. Alavanque os seus canais digitais e forneça conteúdos interativos e informativos de especialistas da sua empresa, incluindo posts em blogs, webinars ou tutoriais básicos. Abrace o poder redes sociais para divulgar informação valiosa, partilhável e convincente porque, em última análise, isso transforma-se em benefício para a sua marca.
Não recolha mais dados do que os necessários
Os dados ajudam os marketers a preparar experiências personalizadas, mas há, creio eu, uma coisa que se chama “demasiados dados” – ou pelo menos, demasiados do tipo errado. Hoje em dia, os clientes são bombardeados com campanhas de email, a maioria das quais recolhe dados específicos. Com um clique, os seus dados são capturados. Além disso, à medida que o “omnicanal” continua a alargar-se, os pontos de contacto dos clientes também crescem – por exemplo, a quantidade de tempo que passam num website específico, os seus cliques ou o seu próximo movimento. Tudo isto resulta numa enorme quantidade de dados recolhidos, demasiados para um sistema digerir – quanto mais para um marketer – e que muitas vezes acrescentam pouco valor e aumentam o risco.
Lembre-se, os ciberataques podem acontecer em qualquer altura. É importante saber o que se tem em arquivo, onde está armazenado, como é acedido e que segurança existe para o proteger. Quanto mais dados uma empresa tiver, mais atrativa se pode tornar para os hackers.
Com as iniciativas digitais no topo da lista de prioridades nas empresas B2B, B2C e D2C, os marketers podem ajudar a ampliar o compromisso da sua marca para proteger o seu ativo mais significativo – clientes – contra violações da cibersegurança.
Embora possa parecer que o marketing e a cibersegurança se situam em dois lados diferentes da organização, ambas as equipas podem apoiar-se mutuamente para proteger os dados, educar o público e ajudar a construir a confiança e o valor da marca. O marketing e o IT já não devem estar isolados um do outro, especialmente nos locais de trabalho onde as organizações – e os seus dados – estão descentralizados.
O que vem a seguir? Quer construa imediatamente uma task force multifuncional e lance uma campanha de educação de marca ou simplesmente inicie uma conversa com a sua audiência principal, o importante é dar o primeiro passo. Quanto mais cedo melhor. Os maus atores estão a mover-se rapidamente, e os marketers também deveriam fazê-lo. Você tem os dados – agora utilize-os em seu benefício.
Pode ver o artigo original aqui.